quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

metade hilda hilst , metade courtney love


Alcoólicas
de Hilda Hilst



É crua a vida. Alça de tripa e metal.

Nela despenco: pedra mórula ferida.

É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.

Como-a no livor da língua

Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me

No estreito-pouco

Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida

Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.

E perambulamos de coturno pela rua

Rubras, góticas, altas de corpo e copos.

A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.

E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima

Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.

(Alcoólicas - I)



* * *



Também são cruas e duras as palavras e as caras

Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida

Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos

Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes

Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos

Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas

De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo

Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas

Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento

Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte

É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.

Sussurras: ah, a vida é líquida.

(Alcoólicas - II)



* * *



E bebendo, Vida, recusamos o sólido

O nodoso, a friez-armadilha

De algum rosto sóbrio, certa voz

Que se amplia, certo olhar que condena

O nosso olhar gasoso: então, bebendo?

E respondemos lassas lérias letícias

O lusco das lagartixas, o lustrino

Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos

E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.

Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me

Na noite navegada, e rio, rio, e remendo

Meu casaco rosso tecido de açucena.

Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.

(Alcoólicas - IV)



* * *



Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito

Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado

Salpicado de negro, de doçuras e iras.

Te amo, Líquida, descendo escorrida

Pela víscera, e assim esquecendo

Fomes

País

O riso solto

A dentadura etérea

Bola

Miséria.

Bebendo, Vida, invento casa, comida

E um Mais que se agiganta, um Mais

Conquistando um fulcro potente na garganta

Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.

Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos

Quando não sou líquida.

(Alcoólicas - V)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

o reino sustentavel da rainha



Manifesto Solidariedade Incondicional ao Ataque a Bienal

"O insulto, o presídio e a ameaça de morte não podem impedir que o utopista sonhe... é aos iludidos e utopistas de todos os tempos a quem a humanidade deve o seu progresso. O que é civilização senão o resultado dos esforços dos utopistas? As liberdades conquistadas pela espécie humana são obras dos ilegais de todos os tempos, que tomaram as leis em suas mão e as despedaçaram".

Ricardo Flores Magón



A partir do segundo semestre de 2008 dá-se início uma sequência de ações que visaram alvos símbolos dos espaços de legitimação e produção de arte burguesa na cidade de São Paulo. "Beleza", potencial comercial, requinte de materiais e "pedigree artístico" são os conceitos em foco nesta batalha. Nesta sequência de ações estão: Centro Universitário de Belas Artes, Galeria Choque Cultural, murais clássicos do graffiti paulistano e Bienal de Artes Visuais, todos estes espaços localizados na cidade de São Paulo. Em síntese, espaços físicos carregados de bens simbólicos no universo da arte foram objetivamente atacados por um grupo de pixadores, gerando as esperadas investidas de repressão e perseguição política por parte das instituições ofendidas.
Com isso temos a seguinte posição: desejamos uma arte engajada, porém não renegamos – e seria um disparate completo negar – as distintas expressões que ilustram a trajetória da arte ocidental. Mas exigimos que estas produções sejam fruto histórico do passado ou da contemporaneidade, apropriadas por amplas camadas da sociedade, não na forma de um espetáculo, como as grandes feiras, mas com o cuidadoso tempo pedagógico, ou seja construção de conhecimento não é como um depósito bancário, exige um processo para a sua apropriação. Não nos serve uma arte restrita a um estreito curral de intelectualóides egoístas voltados para o seu hermético universo. Combatemos os elementos doutrinadores dessa ordem usurpadora da produção humana. As bienais pelo mundo e as grandes mostras de arte movimentam cifras zilhonárias, geram lucros para verdadeiros "Trusts do Sistemas das Artes", grandes figurões, intelectuais, empresários, governos, e um reduzidíssimo número de artistas herdam todo bônus desse grande negócio

Daí vem a dimensão da repercussão que causou o grupo de pixadores que fizeram os ataques em São Paulo. Neste caso não foi um dano ao nível econômico que movimenta este negócio, mais sim um ataque a um símbolo de uma arte elitizada e voltada para si mesma, um ambiente estéril sem "aisthesis", incapaz de dar sentido à sua existência. Também temos clareza que em virtude da decadência do sistema educacional que temos, resultado de opção dos governos, temos gerações de sujeitos sociais sem o menor estímulo para o exercício do pensamento complexo, evidentemente deixando a possibilidade de fruição dos níveis mais complexos das artes para uma pequena fração da sociedade normalmente encontrada na Academia. A audácia que estes jovens cometeram foi e é de um valor extraordinário, semelhante às produções dos artistas anti-arte no início do século XX como dadaístas e futuristas, questionando suportes, instituições e linguagens da arte conservadora da época. O curioso é que não temos memória de haver uma ação tão implacável contra algum artista, como houve contra Caroline. Opa, houve sim! No período de Ditadura Militar, na recente história deste país, militantes de diversos setores foram presos torturados e mortos por pensarem e ousarem mudar as normas estabelecidas. Algo também interessante nesse episódio é que crimes hediondos como: o massacre de Eldorado dos Carajás, massacre do Carandirú, massacre de Corumbirara, massacre de Vigário Geral, curiosamente a justiça deste país nem sequer atribuiu cinquenta e três dias (53) de pena aos responsáveis das atrocidades como o fez com Caroline. Como diz o ditado popular: "dois pesos duas medidas", não é mesmo senhores magistrados? Considerando os fatos e as questões de fundo, pensamos: A dimensão da nossa revolta não cabe na mais ampla sala de uma galeria de arte como a nossa dignidade não será persuadida pelo discurso mais progressista e conciliador de um político. Nosso interesse é construir uma relação de poder muito distinta da que hoje constitui a sociedade de classes que vivemos. Com isso nossa intervenção artística não tem vocação para estar apartada dos conflitos e das necessidades que o nosso povo carece. Produzimos nossa arte mesmo com o risco de sofrermos as punições de um Estado perseguidor e exterminador dos dissidentes da lógica hegemônica, como diz a letra "o crime de rico a lei o cobre, o Estado esmaga o oprimido, não mais direitos para pobre ao rico tudo é permitido". Façamos de cada dia o respirar da nossa arte, um grito de transgressão das normas estáticas e conservadoras da arte. Pintando, pixando e colando, façamos exemplos de luta e de audácia contra aqueles que na melhor das hipóteses nos querem na cadeia. Sem trégua para os ricos, sem trégua para os políticos. Coragem contra a repressão, pois incansável e destemida é a nossa tarefa. Nossa solidariedade incondicional à Pixação Paulistana e seus audaciosos executores.


PIXAR E LUTAR

Coletivo Muralha RubroNegra

www.muralharubronegrabrasil.blogspot.com

A ATIVIDADE SERÁ TRANSMITIDA AO VIVO, PELA INTERNET, ATRAVÉS DA RÁDIO A VOZ DO MORRO PARA ESCUTAR ENTRE NO SITE www.avozdomorro.blogspot.com



OLD IS COOL!

SEMPRE NOIS XOUXOU!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

eu me pergunto...


"Devir é um conceito filosófico que qualifica a mudança constante, a perenidade de algo ou alguém. Surgiu primeiro em Heráclito e em seus seguidores; o devir é exemplificado pelas águas de um rio, “que continua o mesmo, a despeito de suas águas continuamente mudarem.” Devir é o desejo de tornar-se. Recebe também a acepção Nietzscheriana do "torna-te quem tu és", usada em um dos seus escritos.Traduz-se de forma mais literal a eterna mudança do ontem ser diferente do hoje,nas palavras de Heráclito:"O mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje".

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Forum social mundial




marcha da maconha

Um grupo de pelo menos mil e quinhentas pessoas participou de uma passeata pela liberação da maconha no Brasil, neste sábado, na Universidade Federal Rural da Amazônia, em Belém, capital do Pará, onde acontece o Fórum Social Mundial. A manifestação foi organizada pelo Coletivo Nacional "Marcha da maconha", como forma de preparação para a marcha anual que ocorre no primeiro final de semana de maio em 13 cidades brasileiras. Apesar da proibição do consumo da droga durante a passeata, muitos manifestantes estavam com cigarros nas mãos.

Em clima descontraído e com mudas de plantas alusivas à cannabis e cigarros nas mãos, os manifestantes, a maioria jovens, percorreram todos os espaços da Universidade pedindo a liberação do consumo da droga em todos os seus usos. "Queremos a legalização de todos os ciclos que envolvem a maconha, desde a produção, comercialização e seus usos, inclusive os medicinais, não só os recreativos", defendeu um dos coordenadores do Coletivo, Renato Cinco.

A intenção do movimento, como explica o coordenador, é diminuir o tráfico de drogas no país. "Não podemos acabar com o poder tráfico, isso seria muita pretensão nossa, até porque a maconha não é a droga mais cara, apesar de ser a mais vendida, mas pelo menos diminuir a violência que ele gera", afirmou Cinco.

O movimento de defesa da liberação da maconha começou em 1999 em New York através da ONG "Cures not War". No Brasil chegou em 2002. No ano passado 13 cidades brasileiras, entre elas o Rio de Janeiro, sede do movimento, Porto Alegre e Brasília, organizaram marchas pela liberação da maconha. "Isso mostra o interesse cada vez maior pela legalização em virtude dessa verdadeira guerra que é o tráfico", finalizou.
Especial para Terra